O cais está cheio de gente, todo o cais grita de dor. Estão aqui as mulheres, as mães, as velhas com a garganta sufocada e que perguntam numa ânsia:
- Oh, Jesus!
- Talvez não tivesse chegado ainda, talvez esteja já em Leixões.
E um velho pescador explica:
- Está aí a companha do Jacinto. Vem lá ao fundo outra com a vela rasgada. Esperem…esperem.
- E os da Ti Ana?
- Por ora não se sabe deles.
- O meu rico home! O meu rico home!
Reparo num grupo petrificado. Fixo uma mulher alta, ossuda, com cara de cavalo, toda vestida de escuro, que geme baixinho a meu lado. A roupa encharcada pega-se-lhe ao corpo, as mãos magras e tisnadas, de unhas roídas pelo trabalho, fincam-se-lhe no peito para conter os soluços que lho estalam. Geme sempre, e os olhos tem-nos presos ao longe, no negro torvelinho de mar e céu que se confundem. É das poucas que não gritam, é das poucas, talvez, que compreendem…
- E os da Ti Ana?
- Por ora não se sabe deles.
- O meu rico home! O meu rico home!
Reparo num grupo petrificado. Fixo uma mulher alta, ossuda, com cara de cavalo, toda vestida de escuro, que geme baixinho a meu lado. A roupa encharcada pega-se-lhe ao corpo, as mãos magras e tisnadas, de unhas roídas pelo trabalho, fincam-se-lhe no peito para conter os soluços que lho estalam. Geme sempre, e os olhos tem-nos presos ao longe, no negro torvelinho de mar e céu que se confundem. É das poucas que não gritam, é das poucas, talvez, que compreendem…