PROJECTO DE ANIMAÇÃO
COMUM 2014/2015
A LITERATURA E O CINEMA
«Agustina Bessa-Luís é uma das mais consagradas escritoras da
contemporaneidade portuguesa. Não será de estranhar que Manoel de Oliveira tenha recorrido ao seu talento para transpor os seus livros para a sétima arte.
contemporaneidade portuguesa. Não será de estranhar que Manoel de Oliveira tenha recorrido ao seu talento para transpor os seus livros para a sétima arte.
Essa colaboração inicia-se com o filme Francisca, em 1981, que completa a
"tetralogia dos amores frustrados", a partir do romance Fanny Owen.
Em 1993, Oliveira adaptou um outro livro, Vale Abraão, cujo nome é o mesmo do
filme. Constroem a imagem de um Douro de rituais vinhateiros e de desejos
imaginários e analisam a inevitável atracção que ele exerce sobre as
personagens. Nos dois olhares, o do cinema e o da escritora, projecta-se o
Douro das palavras, das imagens, dos planos narrativos e dos planos
cinematográficos. A crítica recebeu com agrado esta obra, tendo obtido com ela
vários prémios internacionais.
Mais tarde, Oliveira recorre de novo à escritora,
interessado pelo tema de Fausto, a tentação diabólica, a luta do bem e do mal.
Agustina apresenta-lhe o texto de O
Convento em 1994, a
partir do qual realiza um filme a que dá o mesmo título. Sendo o romance
publicado mais tarde com o título As
Terras do Risco.
No entanto, a cooperação com Agustina Bessa-Luís é
mais extensa em 1996 com o filme Party,
em que Agustina
é responsável pelos excelentes diálogos que são de alguma forma o motor de toda
a narrativa, dando vida à sucessão de “retratos” já habituais nas obras de
Manoel de Oliveira, aliando a perfeição dos planos e da fotografia.
Não terminando por aqui, ainda outros trabalhos foram
realizados em conjunto: Espelho Mágico,
O Principio da Incerteza, Inquietude e uma participação especial
enquanto "dama texto", em Porto
da Minha Infância. Manoel de Oliveira num colóquio em 2010, revelou estar
interessado em realizar um outro filme baseado na obra A Roda da Noite da sua estimada amiga e escritora Agustina
Bessa-Luís.»
Universidade Lusófona do
Porto/ 3º Ano Comunicação Audiovisual e Multimédia, “Os fimes”, Multiplex, Imagens em movimento, arte e
ensaio [consult. em 04-10-2014]
Disponível em: <http://multiplex.ulp.pt/ma.html >
Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila
Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922. A sua infância e adolescência são
passadas nesta região, cuja ambiência marcará fortemente a obra da escritora.
Estreou-se como romancista em 1948, com a novela Mundo Fechado, tendo desde então mantido um ritmo de publicação
pouco usual nas letras portuguesas, contando até ao momento com mais de meia
centena de obras. Entre 1986 e 1987 foi Directora do diário O Primeiro de Janeiro (Porto). Entre
1990 e 1993 assumiu a direcção do Teatro Nacional de D. Maria II (Lisboa) e foi
membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. É membro da Academie
Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris), da Academia
Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, tendo já sido
distinguida com a Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), a Medalha de Honra da
Cidade do Porto (1988) e o grau de "Officier de l'Ordre des Arts et des
Lettres", atribuído pelo governo francês (1989). É em 1954, com o romance A Sibila, que Agustina Bessa-Luís se
impõe como uma das vozes mais importantes da ficção portuguesa contemporânea.
[…]
AGUSTINA
BESSA-LUÍS - BIOGRAFIA
Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila
Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922. A sua infância e adolescência são
passadas nesta região, cuja ambiência marcará fortemente a obra da escritora.
Estreou-se como romancista em 1948, com a novela Mundo Fechado, tendo desde então mantido um ritmo de publicação
pouco usual nas letras portuguesas, contando até ao momento com mais de meia
centena de obras. Entre 1986 e 1987 foi Directora do diário O Primeiro de Janeiro (Porto). Entre
1990 e 1993 assumiu a direcção do Teatro Nacional de D. Maria II (Lisboa) e foi
membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. É membro da Academie
Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris), da Academia
Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, tendo já sido
distinguida com a Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), a Medalha de Honra da
Cidade do Porto (1988) e o grau de "Officier de l'Ordre des Arts et des
Lettres", atribuído pelo governo francês (1989). É em 1954, com o romance A Sibila, que Agustina Bessa-Luís se
impõe como uma das vozes mais importantes da ficção portuguesa contemporânea.
[…]
Agustina é senhora de um estilo absolutamente
único, paradoxal e enigmático. Vários dos seus romances foram já adaptados ao
cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, de quem é amiga e com quem tem
trabalhado de perto. Estão neste caso Fanny
Owen ("Francisca"), Vale
Abraão e As Terras do Risco ("O Convento"), para além de
"Party", cujos diálogos foram igualmente escritos pela escritora. É
também autora de peças de teatro e guiões para televisão, tendo o seu romance As Fúrias sido adaptado para teatro e
encenado por Filipe La Féria (Teatro Nacional D. Maria II, 1995). Em Maio de
2002 Agustina Bessa-Luís é pela segunda vez contemplada com o Grande Prémio de
Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE), relativo a 2001,
com a obra "O Princípio da Incerteza
- Jóia de Família", obra que Manoel de Oliveira adaptou ao cinema com o
título "O Princípio da Incerteza", e que foi exibido dias antes da
atribuição deste prémio, no Festival de Cannes. Agustina Bessa-Luís foi distinguida
com os prémios Vergílio Ferreira 2004, atribuído pela Universidade de Évora,
pela sua carreira como ficcionista, e o Prémio Camões 2004, o mais alto
galardão das letras em português.
Excerto de Fanny Owen
“O rio Douro não teve cantores. Teve-os o Mondego e o Tejo
também. Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra
havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado. Havia o tiro certeiro dos
caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira. E o
clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os
barrancos de Sabroso. O rio Douro ficou banido da lírica portuguesa com a sua
catadura feroz pouco própria para animar os gorjeios dos bernardins, que são
sempre lamurientos e que à beira de água lavam os pés e os pecados. E, no
entanto, trata-se de um rio majestoso como não há outro. Eu vi-o em Zamora e
não o reconheci; diz-se que as margens eram carregadas de pinheiros e daí o seu
nome dum que quer dizer madeira. Mas
entra em Portugal à má cara. Enovela o caudal sobre penhascos, muge e ressopra
como um touro com molhelha de couro preto a subir uma calçada. Não creio que os
poetas o habitem; e, no entanto, Dante tê-lo-ia amado e preferido; como
preferiu os estaleiros incandescentes de Veneza e os túmulos abertos das arenas
de Arles, para descrever o inferno. Por cá, são brandas as liras; com o
aguilhão da fome, às vezes saltam umas revoltas que vibram na Calíope alguma
bordoada. Com o ferrão do amor, não se cometem senão delitos em forma de soneto
ou de sextilhas. Epopeias são raras, as musas são mimosas. […]
Tinha quatro filhas e dois rapazes, um deles morgado,
entroncado e bebedor; antes dos vinte anos ficava órfão e deixava a herança nos
botequins da Régua onde se jogava o monte com obstinação que, de não ser
viciosa, seria espartana. A Régua, em 1840, era um pouco St. Louis do Missouri,
só que com menos europeus. Havia ingleses, é certo; mas para cá da Mancha um
inglês sofre uma rebaixa de cinquenta por cento. Para chegar onde quero chegar
direi que em 1845, nos altos de Baião e num lugar chamado Santa Cruz do Douro,
vivia um desses morgados bizarros, que cumprem o seu destino seduzindo uma
costureira, casando com uma prima e endividando-se quase sem sair de casa – a
comer e a administrar mal as terras. […]”
Agustina Bessa-Luís, Fanny Owen (romance), 1979, 2009
«Lourença tinha três irmãos. Todos aprendiam a fazer habilidades como cãezinhos, e tocavam guitarra ou dançavam em pontas dos pés. Ela não. Era até um bocado infeliz para aprender, e admirava-se de que lhe quisessem ensinar tantas coisas aborrecidas e que ela tinha de esquecer o mais depressa possível. O que mais gostava de fazer era comer maçãs e deitar-se para dormir. Mas não dormia. Fechava os olhos e acontecia-lhe então uma aventura bonita e conhecia gente maravilhosa. Eram as pessoas que ela via no cinema ou que ela já tinha encontrado em qualquer parte, mas que não sabia quem eram...»



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