O sr. piloto-mor só abre a boca para ralhar. De quando em quando aquele vozeirão tremendo ecoa na Cantareira e cala-se tudo. Toda a gente tem medo desse homem seco e tisnado, autoritário e duro, de grandes barbas brancas revoltas. Ninguém se atreve a dirigir-lhe a palavra e todos os pescadores, quando ele passa como uma rajada, tiram os barretes da cabeça.
Noutro dia estiveram alguns barcos em perigo.
- O salva-vidas!...
E o salva-vidas lá desceu pelo guindaste até ao rio, mas não apareceu ninguém para o tripular.
- Então ninguém vai?... - perguntou o piloto-mor.
Mas os homens em grupo, encolhidos, não responderam.
- Então vocês têm alma para os deixarem morrer ali à nossa vista
Um mais atrevido disse, por fim:
- Quem lá for, lá fica. O salva-vidas não se aguenta com este mar.
E o vozeirão a sair das barbas brancas:
- Pois então vou eu, com os diabos! Vou eu e fico lá. E vou sozinho se ninguém quiser ir comigo.
Saltou dentro do barco - e com ele uma dúzia de homens.

- O salva-vidas!...
E o salva-vidas lá desceu pelo guindaste até ao rio, mas não apareceu ninguém para o tripular.
- Então ninguém vai?... - perguntou o piloto-mor.
Mas os homens em grupo, encolhidos, não responderam.
- Então vocês têm alma para os deixarem morrer ali à nossa vista
Um mais atrevido disse, por fim:
- Quem lá for, lá fica. O salva-vidas não se aguenta com este mar.
E o vozeirão a sair das barbas brancas:
- Pois então vou eu, com os diabos! Vou eu e fico lá. E vou sozinho se ninguém quiser ir comigo.
Saltou dentro do barco - e com ele uma dúzia de homens.
Raul Brandão In Os Pescadores