Nenhum de nós
sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até à cova com
palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de
montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem.
Mas há momentos em que cada um redobra de proporções, há momentos em que a vida
se me afigura iluminada por outra claridade. Há momentos em que cada um grita:
– Eu não vivi! eu não vivi! eu não vivi! – Há momentos em que deparamos com
outra figura maior, que nos mete medo. A vida é só isto?
Raul Brandão in Húmus (1917)